Senhor Bolero: A história de Antônio Vilmar Rodrigues e o ritmo que atravessou sua vida

Há pessoas que dançam. E há pessoas tocadas pela dança — daquelas que não apenas seguem um ritmo, mas o carregam como parte da própria identidade.Entre essas figuras raras está Antônio Vilmar Rodrigues, carinhosamente conhecido como Senhor Bolero, um guardião vivo da tradição, da elegância e da poesia do bolero no Brasil.

Sua história, contada em memórias cheias de afeto, atravessa décadas, cidades, salões míticos e gerações. É uma narrativa que mistura música, família, encontros marcantes e a certeza de que a dança transforma vidas — inclusive a dele.

Infância, Amazônia e o primeiro encantamento pela dança

O primeiro contato de Antônio com a dança nasceu ainda na década de 1960, em Igarapé-Açu e Belém do Pará, bem antes de ele imaginar que um dia seria reconhecido como Senhor Bolero.
Entre vizinhos dançando ao ar livre e parentes apaixonados por música, dois personagens marcaram sua história: sua mãe — “rainha da dança” — e um tio que chegou a representar o Brasil em Caracas e Lima.

A criança de 10 ou 12 anos observava tudo com olhos curiosos, sem saber que ali germinava um amor para a vida inteira.

Ele lembra, com brilho no olhar, do “salão azul” em Belém — sempre lotado — onde via casais dançando com breques elegantes.
Muitas noites dormia “ligado” na música que vinha ao longe, imaginando como seria estar lá dentro, vivendo aquela magia.

“Eu achava tudo muito divertido, interessante, marcante… e inesquecível.”

O bolero: o grande amor musical de uma vida inteira

Antes mesmo da dança, veio a música.
O bolero chegou a ele por um rádio a pilha, que o irmão mais velho ligava enquanto costurava.
A trilha sonora diária virou afeto, e o afeto virou paixão.

Filmes românticos, adolescência, namoradas, festas… o bolero sempre estava lá.
Acompanhou Antônio como um amigo fiel, daqueles que atravessam décadas sem perder a intensidade.

“O bolero é o ritmo principal da minha vida.”

Anos 90: a escadaria que mudou tudo

O grande divisor de águas aconteceu em março de 1992.

Tudo começou de forma simples: um colega de trabalho boêmio mostrou uma reportagem sobre a Estudantina Musical, no Rio de Janeiro, e o convidou para conhecer o famoso salão.

Antônio aceitou.

A descrição dele dessa primeira visita parece cena de filme:

A escada — única, alta, imponente — conduzia a um ambiente que ele jamais imaginaria: um salão repleto de damas e cavalheiros elegantes, dançando com naturalidade, alegria e técnica.

“Vi que havia descoberto um novo mundo. O mundo da Dança de Salão.”

Ali ele conheceu sua primeira grande mestra: Maria Antonieta, que se tornaria uma de suas maiores inspirações.
Pouco depois, matriculou-se também na escola de Jaime Arôxa, e mais tarde mergulhou na alegria e no estilo marcante de Carlinhos de Jesus.

Com eles, Antônio não apenas aprendeu passos — aprendeu um novo jeito de viver.

Inspirações que moldaram um dançarino elegante

Nos anos que se seguiram, três nomes formaram a base artística e afetiva de Antônio:

  • Maria Antonieta – com seu estilo clássico, presença e dedicação.
  • Jaime Arôxa – com método, técnica e entrega.
  • Carlinhos de Jesus – com a energia contagiante da sua escola.

E, claro, os icônicos bailes que marcaram época:
Estudantina, Circo Voador, Casa de Dança, salões cariocas que fervilhavam de romantismo, música ao vivo e orquestras inesquecíveis como Cuba Libre e Tabajara.

O Encontro Nacional Sr. Bolero: um capítulo emocionante

Com tantas histórias, escolher um momento especial não é tarefa simples para ele.
Mas um episódio o marcou profundamente: sua primeira participação no Encontro Nacional Sr. Bolero – Regional Norte, em Belém, em 2019.

O anúncio veio de surpresa, durante um workshop no Studio Tudo Dança. Os professores Aryane Rodrigues e Sidney Teixeira entraram, elegantíssimos, levando consigo um banner e uma novidade: o projeto Sr. Bolero.

Depois de uma aula encantadora, Sidney convidou Antônio e sua dama, Lurdinha, para demonstrar um passo. Ao elogiar: “achei bonito”, deu a ele um momento de clímax, reconhecimento e emoção.

“Foi um privilégio. Um momento inesquecível, só possível graças ao bolero, à dança e ao Encontro Nacional Sr. Bolero.”

A importância dos encontros: a dança como patrimônio vivo

Para Antônio, esses encontros não são apenas eventos.
São templos vivos da memória da dança de salão.

Ele os enxerga como pontes entre gerações, espaços onde ritmos como bolero, samba e forró respiram, se reinventam e seguem vivos.

“Eles preservam a tradição e reavivam a memória. Criam laços e mantêm acesa a chama da dança de salão.”

O que o bolero ainda pode ensinar

O olhar dele sobre o bolero é tocante.
Para as novas gerações, acredita que o ritmo ensina mais que passos:

  • sensibilidade
  • presença
  • gentileza
  • parceria
  • cavalheirismo
  • lirismo
  • disciplina
  • conexão humana

O bolero, segundo ele, é convite para desacelerar — para sentir o toque, o olhar, a música e o romantismo.

O conselho do Senhor Bolero para quem está começando

Ele sorri ao dar essa dica:

  • Desencane da pressa.
  • Dê um “chá de cadeira” na ansiedade.
  • Erre sem medo.
  • Divirta-se.
  • Admire.
  • Sinta.

“A dança transforma. Basta abrir o coração e deixar a música te levar.”

O legado que ele quer deixar

O legado que Antônio deseja entregar à comunidade é simples e grandioso:

o amor pela dança.

O encantamento que sentiu ao subir pela primeira vez a escadaria da Estudantina.
A certeza de que a dança é cultura, emoção, encontro, história.
A esperança de que cada geração descubra a beleza do bolero e mantenha essa chama viva.

“Se alguém viver um momento inesquecível numa aula, num baile ou num encontro — e guardar essa emoção para sempre — então saberei que cumpri minha missão.”

Viva o bolero, viva a dança, viva o Senhor Bolero

A história de Antônio é mais que um relato.
É um presente para a dança brasileira.
É a prova viva de que o bolero atravessa vidas, gera laços e transforma destinos.

E enquanto houver alguém, em algum salão, deslizando suavemente ao ritmo de um bolero, o legado do Senhor Bolero continuará vivo — elegante, romântico e eterno.

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